Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL), presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente |
Aliados dos presidentes da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), atuaram nesta
quinta-feira (5) em duas CPIs para evitar convocações de ex-assessores e do
filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ação coordenada ocorre uma
semana após Lula pedir ao PT para poupar Cunha de críticas durante a última
reunião do diretório nacional, em Brasília.
Segundo fontes do jornal "O
Estado de S. Paulo", a blindagem a Lula é resultado das conversas
conduzidas por ele e por outros petistas da confiança do ex-presidente com
aliados de Cunha e de Renan nas últimas três semanas. Os dois grupos firmaram
um pacto de não agressão que envolve interesses do PT, do PMDB e de vários
políticos investigados pela Operação Lava Jato.
A senha para o armistício foi dada
pelo próprio Lula na semana passada, quando o petista pediu ao PT que desse
amplo direito de defesa a Cunha e aos demais alvos do procurador-geral da
República, Rodrigo Janot. O presidente da Câmara e Renan são investigados por
Janot.
Com o avanço das apurações sobre o
entorno do ex-presidente, ele teme que eventuais ataques do PT a Cunha possam
ser alvo de revide do PMDB nas duas Casas legislativas. Lula também avalia que
Cunha pode aceitar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff para
pressionar petistas a defendê-lo no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
Como resultado, ontem, na comissão de
inquérito do Senado que investiga irregularidades no Conselho Administrativo de
Recursos Fiscais (Carf), os governistas liderados por PT e PMDB conseguiram
derrubar o requerimento de convocação do filho caçula do ex-presidente, Luís
Cláudio Lula da Silva. Ele é dono de uma empresa que apareceu nas investigações
da Operação Zelotes, que apura esquema criminoso no Carf.
Além do caso de Luís Cláudio, a base
governista impediu as convocações dos ex-ministros Erenice Guerra e Gilberto
Carvalho - ela comandou a Casa Civil no fim do segundo mandato de Lula e ele
foi chefe do Gabinete Pessoal da Presidência (2003-2010) e ministro da
Secretaria-Geral no primeiro mandato de Dilma (2011-2014).
Na Câmara, aliados de Cunha foram
fundamentais para ajudar o PT a rejeitar a convocação do ex-ministro Antonio
Palocci pela CPI do BNDES. Ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Palocci teria
movimentado R$ 216 milhões após atuar com consultor de empresas que firmaram
contratos com o banco.
'Acordão'
Em 17 de julho deste ano, Cunha
anunciou a criação das CPIs do BNDES e dos Fundos de Pensão como uma resposta
ao Planalto e ao PT pelas denúncias contra ele feitas pelo delator Júlio
Camargo. Agora, segundo a oposição, houve um "acordão" para poupar
Lula e impedir as investigações. "Hoje nós assistimos ao enterro desta
CPI. O que vamos fazer aqui?", disse a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ).
"O governo veio organizado para derrubar tudo", afirmou Betinho Gomes
(PSDB-MG).
O presidente da Câmara e aliados têm
reiterado que não há nenhum tipo de acordo com Lula ou o PT. Questionado sobre
a vitória do governo na CPI do BNDES, Cunha disse que não acompanhou a
comissão. "Não vi o que ocorreu (na CPI), mas na Câmara o espírito não é
de constranger nem ele (Lula) nem a família (dele)", afirmou o deputado.
Em entrevista ao jornal há três
semanas, Cunha disse ter se encontrado com Lula para "falar de
política". A conversa ocorreu em 18 de setembro, em Brasília. O presidente
da Câmara confirmou que sua relação com o governo melhorou após a entrada de
Jaques Wagner na Casa Civil, há pouco mais de um mês.
Principal articulador do governo na
CPI do BNDES, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) reconheceu que "existe
um novo ambiente" na base aliada, principalmente com parlamentares do
PMDB. "Aos poucos, estamos conseguindo reconstruir nossa base",
disse. "Hoje tivemos uma boa demonstração disso."
Apesar de o governo ter tido uma
relação tumultuada com o PMDB do Senado no primeiro semestre, a turbulência
nunca abalou a proximidade que a cúpula do partido na Casa tem com Lula.
Senadores do PMDB e o ex-presidente se reuniram diversas vezes para reclamar de
medidas tomadas por Dilma. Ontem, na CPI do Carf, governistas compareceram em
peso para ajudar aliados de Lula.
O senador Otto Alencar (PSD-BA)
criticou a PF por ter intimado Luís Cláudio às 23h, no dia do aniversário de
Lula. "Estamos diante de uma oposição raivosa que quer atingir a imagem de
Lula." A CPI ainda rejeitou a transferência dos sigilos bancário, fiscal, telefônico
e telemático (mensagens eletrônicas) de Luís Cláudio, bem como de sua empresa,
LFT Marketing Esportivo. Senadores da base também se posicionaram contra a
convocação e quebra de sigilo de Carlos Juliano Ribeiro Nardes, sobrinho do
ministro do Tribunal de Contas da União Augusto Nardes. As informações são do
jornal "O Estado de S. Paulo".
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