3º Colégio da Policia Militar: Rua Santa Helena, s/n - Comunidade São Pedro, Manaus |
MANAUS - Pintados de branco e azul, os
muros da Escola Estadual Professor Waldocke Fricke de Lyra, na zona oeste de
Manaus, em nada lembram as pichações que antes estampavam as paredes. Os alunos
só saíam para o intervalo com a mochila nas costas, por medo de serem roubados
pelos próprios colegas. Nos banheiros, vasos entupidos com o descarte das
carteiras de dinheiro furtadas. Brigas no pátio, armas brancas circulando e uso
de drogas completavam o cenário.
A violência que sempre marcou o bairro
Tarumã, fruto de invasões e considerado hoje uma “área vermelha” da capital
amazonense devido aos altos índices de criminalidade, havia ultrapassado os
muros do colégio. Em 2012, a pedido do governo estadual, a Polícia Militar
assumiu o controle da escola, que passou a se chamar 3° Colégio Militar da PM
Professor Waldocke Fricke de Lyra, que atende cerca de 2 mil alunos dos ensinos
fundamental e médio.
A mudança veio acompanhada de uma
reforma na estrutura física e de uma gestão “linha dura”. Farda e horário
rígido para entrar. Para sair, só quando todas as tarefas forem finalizadas. A
ordem é tirar a bateria do celular depois de entrar na escola. Se flagrado
usando o aparelho, o aluno terá que esperar até o bimestre seguinte para
reavê-lo. O coronel aposentado Rudnei Caldas, responsável pela implantação das
regras, diz que pais e professores chiaram no início, mas ele não arredou pé.
Hoje, ao passarem pelos policiais
armados que atuam como inspetores nos corredores, estudantes endireitam a
coluna e batem continência. A rotina nos rígidos moldes militares inclui gritos
de guerra antes de iniciar a jornada, além de distribuição de distintivos e de
patentes para quem tem notas de destaque. Indisciplinas reiteradas levam à expulsão.
Só nos cinco primeiros meses de 2015, cinco foram desligados por não se
adequarem. O corpo docente também mudou, e a maioria dos professores antigos
deixou a escola.
O Capitão PM Idevandro Ricardo Colares observa a entrada e inspeciona o uniforme
dos alunos. - ANDRE COELHO / Agência O Globo
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— Sei que há uma corrente na educação
resistente ao nosso modelo, mas acho que, para o nosso público, vindo de uma
desestrutura familiar e carência social muito grande, ele faz a diferença — diz
o coronel.
De 2011 para 2013, a escola deu um
salto no Ideb. Nos anos iniciais do ensino fundamental, a média passou de 3,3
para 6,1. Nos finais, foi de de 3,1 para 5,8. O índice de reprovação, de 15,2%
em 2012, foi zerado no ano passado.
A melhoria no desempenho apareceu
também nas Olimpíadas de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). Órfã de pai
desde os 8 anos e filha de uma motorista de ônibus, Jennyfer da Silva Veloso,
de 16 anos, levou o bronze e uma menção honrosa na competição. Ela foi aprovada
em primeiro lugar no vestibular da Universidade Estadual do Amazonas (UEA),
onde começou a cursar matemática este ano.
Ela conta a dificuldade de se adaptar
na transição da escola para o regime militar e lembra do primeiro dia da
mudança.
— Eu estava com o cabelo pintado, usava
piercing no nariz, tinha franja. Fomos levados para a quadra, nos explicaram
tudo. Tive que tirar esmalte, prender a franja. Com o tempo, me acostumei e
percebi que, aqui, realmente o que importa é o conhecimento, e não a aparência.
A escola melhorou muito no novo modelo.
O aluno Yago Willy em frente a formação de estudantes no pátio -
ANDRE COELHO / Agência O Globo
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Outro medalhista foi Yuri Macedo
Michele, que garantiu a primeira medalha de ouro da escola na Obmep. Tímido, o
garoto de 13 anos, aluno do 8º ano, fala da felicidade dos pais — a mãe dona de
casa e o pai vendedor em uma fábrica de sorvetes — com a conquista. Entre os
colegas, a popularidade do “aluno olímpico”, como são chamados os estudantes
que se preparam no contraturno das aulas para as competições, aumentou.
POUCOS PROFESSORES PERMANECERAM
Parte da equipe de aproximadamente 60
professores efetivos que atua nos três turnos, Maria do Rosário de Almeida
Braga, de 54 anos, diz que é uma das poucas educadoras que continuaram no
colégio depois que a PM assumiu o controle.
— Aqui só fica professor que quer
trabalhar. Há exigências para o aluno e para o professor também. Mas o retorno
é muito grande, inclusive financeiro — diz Maria do Rosário.
A professora se refere a dois salários
extras pagos pelo governo amazonense a todos os funcionários caso a escola
atinja metas de qualidade do ensino, alcançadas desde o primeiro ano de
administração militar. Além da recompensa individual aos servidores, o colégio
recebeu, em 2015, R$ 170 mil do estado em virtude dos resultados conquistados
no último Ideb.
Os recursos vão para a Associação de
Pais e Mestres e Comunitários (APMC) do colégio e são destinados a bancar
projetos, comprar equipamentos e contratar professores. Hoje, há 23 educadores
pagos pela associação que reforçam o quadro efetivo da escola, além de
dentista, assistente social, psicóloga. Cada aluno contribui com R$ 20 por mês
para a entidade, a menos que a família peça isenção por não ter condições
financeiras.
Alunos mostram respeito aos Militares que trabalham na guarda do Colégio |
Continência ao entrar no Colégio |
Capitão Idevandro. SubComandante do Colégio |
Reunião Militar antes de ir para sala de aula |
Biblioteca |
Sala de aula |
Batalhão Escolar: Os Melhores Alunos do Colégio |
Fonte: O Globo: http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/escolas-buscam-formas-de-educar-em-meio-cotidiano-de-violencia-16579542#ixzz3eUGPIBG3