Nem sempre o tráfico de pessoas
ocorre de forma forçada. Na maior parte das vezes, o crime começa com a
promessa de realização de um sonho: um pedido de casamento que pode mudar a
vida de mulheres, a oferta de um emprego ou a chance de seguir a carreira de
modelo ou de jogador de futebol. Só quando o sonho vira pesadelo é que as
vítimas percebem que foram alvos de aliciadores, dizem autoridades que atuam no
combate a essa prática. A dificuldade em perceber a prática do crime desde a
origem tem sido um dos principais desafios no enfrentamento ao tráfico humano.
“Muitas vezes as vítimas não se enxergam como
vítimas desse crime ou têm medo de denunciar por sofrer represália porque os
aliciadores conhecem as famílias. A principal dificuldade hoje é ter dados mais
concretos deste crime”, afirmou Marina Bernardes de Almeida, coordenadora de Política
de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Ministério da Justiça.
Ao participar hoje (30) da abertura
da 5ª Semana de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas que ocorre no Distrito
Federal e em vários estados, Marina Bernardes lembrou que esse tipo de ação de
conscientização da população e a capacitação de agentes públicos para
identificarem os sinais desse crime têm sido uma ferramenta eficiente no
combate ao tráfico humano.
No DF, ao longo de todo o dia, a
rodoviária interestadual, por onde chegam e partem ônibus para todas as regiões
do país, foi invadida por artistas que apresentaram situações de vítimas do
tráfico humano. As encenações ocorrem tanto em um palco montado na entrada do
local quanto nos corredores, onde é possível se deparar com cenas de mulheres
exploradas sexualmente ou com atores se passando por aliciadores e abordando
quem passa por ali.
Analista do Programa do Escritório
das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), Fernanda Fuentes lembrou que as
maiores vítimas desse tipo de crime são as populações vulneráveis que
geralmente têm menos informações e buscam melhoria da qualidade de vida.
Fernanda ainda destacou que mulheres e crianças são as principais vítimas dessa
prática. Relatório das Nações Unidas confirma o dado ao apontar que 71% das pessoas traficadas são
meninas e mulheres.
O Brasil e a Colômbia são os dois
países latino-americanos que recebem apoio do UNODC para enfrentar essa prática
através de um programa financiado pelos países da União Europeia para
fortalecer a ação de governos locais. Segundo Fernanda Fuentes, um dos maiores
desafios no combate ao tráfico humano no país é a diversidade regional que
acaba refletindo nos diferentes objetivos que a prática pode adotar dependendo
da região em que ocorre.
“O tráfico de pessoas é enfrentado em
rede, tanto pelo governo quanto pela sociedade civil. Dependendo de onde
ocorre, há objetivos diferentes prevalecendo. Em algumas regiões é o trabalho
escravo, em outras a exploração sexual. Por isso é importante a participação de
organizações da sociedade civil que podem ajudar a enfrentar o crime dentro do
contexto local”, afirmou.
A capital do país, onde ocorrem as
ações de conscientização ao longo de toda a semana, é um dos destinos
preferidos de aliciadores do tráfico humano interno. Especialista em
assistência social do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP) da
Secretaria de Justiça do DF, Annie Carvalho, explicou que Brasília ainda surge
como promessa de grande oferta de trabalho.
Atrizes fazem performance teatral durante a abertura da 5ª Semana de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, na Rodoviária Interestadual de Brasília - Marcelo Camargo/Agência Brasil |
“Tem muitas pessoas que vêm com a
promessa de emprego aparentemente promissora, mas chega aqui e sofre exploração
da mão de obra ou exploração sexual. Essas são as principais modalidades que a
gente vem atendendo”, disse a especialista.
Segundo ela, as autoridades estão
mais atentas e por isso o número de denúncias vêm aumentando. “Isto não quer
dizer que aumentou o tipo de crime, mas está aparecendo mais”, disse.
fonte: agência brasil
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